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domingo, 27 de setembro de 2009

Nem olhos viram...



De repente, dou-me conta de que estou todo enrolado no cordão umbilical, agarrado na placenta; envolvido com as coisas da vida intra-uterina. E a grande descoberta caiu sobre mim como um raio: não quero nascer. Pior ainda é admitir que tenho receio desse momento. E ajo como se pudesse acrescentar um côvado ao curso de minha formação.
A metáfora do útero ajuda a perceber o ridículo. Eu, aqui, a tal ponto envolvido com as coisas desta vida, que chego a desdenhar a verdadeira, a mim prometida. Falta de fé? Claro, mas acho que se trata, também, de falta de imaginação. As pessoas têm medo de falar no assunto, assim como eu. Resultado, não nos preparamos. "Deixa ela chegar", dizemos, sem querer pronunciar seu nome, para não "chama-la". Coisa de pagão.
Mas se pensarmos em nascimento, tudo fica mais fácil. Em especial para os crentes. Pois, pela graça, nasceremos vivos e sãos, não natimortos(feto morto).
Este ano, começo a incentivar meu coração a trocar a morte pelo nascimento, o medo pela expectativa, o tolo desejo de postergação pela excitação da hora.
Não pretendo me alienar, no entanto. Sei que este período é de gestação, e uma boa formação, agora, me garantirá... Bem, não sei o quê, mas estou certo de que devo cuidar de "contar meus dias" intra-uterinos, para alcançar um coração sábio. Sem pressa; o Obstetra sabe a hora certa.
Vou me deixar sonhar. E já encontrei um modo. Farei um exercício de "regra-de-três": o céu está para esta vida assim como esta vida está para a realidade de um feto. Por essa regra, começo a imaginar como será, por exemplo, a experiência com o belo. Se um grande coral masculino me arrebata, aqui, como será essa experiência quando eu nascer? Sei que, como feto, não "ouço" quase nada. Se o correr pela praia, com água gelada nos pés, me delicia, como será o "correr" de então? Se uma lasanha ao molho branco me parece pura arte (culinária), aqui, suspenso no líquido amniótico, como será a experiência equivalente, no porvir? Hoje, com minha miopia espiritual, não consigo imaginar como será o equivalente à emoção que tive ao ver o mar pela primeira vez.
Como pode um feto imaginar que usará suas perninhas para correr ou andar de bicicleta? Como vai acreditar que aquele dedão na boquinha poderá ser substituído por um sorvete de chocolate com cobertura de caramelo?
E o amor? Como poderia um projeto de gente imaginar viver (e sofrer) um grande amor? A felicidade que envolve um relacionamento apaixonado, pleno, sereno, devoto, seguro, eterno... No entanto, fomos feitos para isso: amar a Deus e adorá-lo para sempre. Seremos capazes de amar e nos deixar amar de uma forma mais plena que hoje? Essa pergunta revela que esquecemos a regra de três: a solidão da vida intra-uterina está para o colo da mamãe assim como nossos tímidos afetos de hoje estão para a plenitude do "colo de Deus".
Sim, este ano vou sonhar com o céu. Sabendo, desde já, que essas minhas regras-de-três são ingenuidade pueril. São pensamentos naturais, porque "não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois o espiritual" (1 Co 15.46). Mas buscarei "a sabedoria de Deus em mistério", oculta aos habitantes deste útero, "a qual Deus preordenou desde a eternidade, para a nossa glória".
 "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (1 Coríntios 2.9).

autor
Rubem Amorese Autor de vários livros, é presidente da Missão Social Evangélica,.

www.provoice.com.br
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3 comentários:

  1. Belíssimo texto!! Guardei aqui para ler novamente e pensar ainda mais sobre (se é que existem para ele) conclusões.
    #beijojávou

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  2. COMO É LINDO,QUANDO DEUS PÕE NO CORAÇÃO DE ALGUÉM TÃO SÁBIAS PALAVRAS, E ESSE ALGUÉM CONSEGUE LEVAR A SEUS IRMÃOS A MENSAGEM VEDADEIRA DA VIDA E DO AMOR!
    FELICIDADES ,SUCESSO E PAZ!

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